Somente quando alguns bípedes se sentirem quadrúpedes perceberão
que a racionalidade não procede dos esteróides, mas dos neurônios.
Estávamos todos reunidos em casa quando saímos para a igreja e só ele e meu pai ficaram em casa. Voltamos, meu pai exclamou:
"Ele andou em cada parte que compõe esta casa, e olhava como se estivesse se despedindo."
Retruquei:
"Pai, pare! Nós sabemos o estado de saúde dele, mas pare de falar como se ele estivesse morrendo"
Contudo não era meu pai que estava expressando as palavras erradas no momento errado, era eu que estava rejeitando a verdade, ele estava morrendo. Na noite, quase meia noite já, ele já não conseguia deitar, sentar, dificilmente andava, ficava parado olhando para cima, uma posição para poder respirar de modo mais confortável. Vimos que a situação se agravou e decidimos levá-lo ao seu devido médico com urgência. Chegamos lá e era angustiante esperar o nosso momento de consulta. Ele olhava para mim como se dissesse:
"Você já sabe o que vai ocorrer, ficarei só mais alguns instantes e partirei. Não que chore, mas seja forte!".
Tentava ficar distante de todos algum tempo depois ia para perto de cada pessoa, encostava-se, tentava deitar, mas não conseguia, a respiração ficava complicada. Quando foram medir sua massa corporal estava acima do normal. Nem me surpreendi, pois ele já era velho de idade e o único momento que nitidamente todos podiam ver um sorriso nele era nas refeições. Foi consultado e, como já era esperado, a situação dele era muito grave, entretanto só diziam que o quadro dele não eram dos melhores – amenizando –. Aplicaram algo nele e pediram um raio-X e mandou a assistente colocar nos casos com urgência. Avisou que no outro dia era pra retornar ao fim do dia, pois quanto mais rápido possível melhor seria. Voltamos para casa e ele estava deitado sobre os braços da minha irmã, daquele modo que estava era o melhor, pois não fazia esforços e todo o sistema respiratório estava na melhor posição possível. Era quase meia noite quando, sa sala, meu irmão olhou para ele e disse:
"O Vinnye morreu!".
Pranto. "Meu Deus, meu Deus..." ele não acreditava.
Voltamos rápido ao consultório, estava fechado, mas chamamos até que o veterinário veio até a porta, colocou seus trajes de proteção, massageou-o, tentou ouvir seu coração com o estetoscópio e tudo que disse foi:
"Ele morreu."
O cachorro que, quando bebê, nos fez comprar um par de tênis quando não encontramos qualquer caixa para fazer sua cama, o cachorro, quando jovem, pulou a grade de separação e em meio a madrugada deitou entre minhas pernas na minha cama, e, o mesmo cachorro, quando velho, nos fez comprar uma cama só para ele; um integrante da família havia falecido. Indago-me perguntando para mim mesmo:
"Como ele sabia que ia morrer?"
Enterramo-lo nas medianas de 00h00min para 01h00min, comecei a escrever isso as 00h47min e agora são exatos 01h35min, então, pergunto:
"Será que ele sabia que ia morrer? Será que ele não sentia toda a dor que o envolvia? Será que ele sabia qual era a dificuldade que estava tendo naquele momento? Será que eles são tão diferentes de nós para alguns ainda os maltratar?
O Vinnye sabia como sei que os outros "Vinnies" também sabem.